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“Iniciar sessão” ou “Iniciar uma sessão”

 

A quem de direito,

 

Mais uma vez, fica provado:

De pouco serve o tradutor dar-se ao trabalho de pesquisar e fundamentar devidamente as suas escolhas com base em exemplos (neste caso, milhares), fontes e autoridades oficiais, quando o revisor se limita a justificar as suas “sentenças” com uma espécie de “porque me parece que é assim, com base na minha própria maneira de falar, e eu é que mando”.

 

Original – “Please sign in to procceed”

Tradução – “Para prosseguir, inicie uma sessão”

Erro – “Word Structure”

 

Justificação do tradutor: “A utilização/omissão do artigo indefinido é opcional (tal como em “abrir conta na Caixa Geral de Depósitos” ou “abrir uma conta na Caixa Geral de Depósitos). Normalmente, a opção pela omissão deve-se a questões de economia de espaço (linguagem jornalística e instruções simples, como as utilizadas nos botões de programas informáticos). A título de exemplo, só no Language Portal da Microsoft, podemos encontrar mais de 1000 ocorrências de “iniciar uma sessão”.

Ex:

Start a chat session / Iniciar uma sessão de chat / Windows Server;

Try to sign in again / Tentar iniciar uma sessão novamente / Skype;

Log me in and continue / Tentar iniciar uma sessão novamente / Skype;

Start a shared session / Iniciar uma sessão partilhada / Windows Server;

Sign in to your account / Iniciar uma sessão na sua conta / Skype;

 

Resposta do revisor: “the use of the indefinite article, in this case, is also not optional. When someone logs in/signs in a specific account, wich is the case, the person is not signing in an indefinite account. The example provided "abrir uma conta na Caixa Geral de Depósitos" is not applicable to this specific case/specific account that already exists.”

 

???

 

Bom… com 49 anos de idade e depois de tantos anos de traduções… achei melhor consultar um especialista, para ter a certeza de que não estava a ficar senil.

Afinal de contas, um de nós (eu ou o revisor) estava a ter dificuldade em “interpretar o enunciado”, como acontecia, por vezes, nos testes de português que fazíamos na escola.

Eis a minha conversa com o especialista do Ciberdúvidas:

PERGUNTA:

“Boa tarde, Antes de mais, muito obrigado por tantos esclarecimentos que já me deram e parabéns pelo excelente serviço que prestam à língua portuguesa através do vosso portal!

No meu trabalho, é frequente encontrar a expressão “sign in” (por exemplo, “Please sign in to procceed”.

Na maioria das vezes, traduzo “sign in” como “inicie sessão”, por economia de espaço, uma vez que as traduções se destinam, maioritariamente, a botões e pequenos campos de texto de aplicações informáticas. Entretanto, em certas ocasiões (quando o espaço e o contexto assim o justificam), também utilizo “inicie uma sessão” (por exemplo, “Para prosseguir, inicie uma sessão na aplicação”).

Acontece que, sempre que opto por esta última fórmula (uma sessão), o revisor de uma das muitas agências para as quais trabalho insiste em classificá-la como “erro de estrutura gramatical”, justificando que “Quando alguém inicia sessão numa conta específica, o que é o caso, essa pessoa não está a iniciar sessão numa conta indefinida”.

 Confesso que tenho alguma dificuldade em entender a lógica do revisor, porque “uma” não se refere à conta, mas sim à sessão, pelo que não vislumbro como é que pode fazer com que a conta seja definida ou indefinida.

Sempre encarei a escolha entre as duas fórmulas (com e sem “uma”) como opcional (“vou comer bife”/“vou comer um bife”; “vou abrir conta no banco X/”vou abrir uma conta no banco X”), consoante o autor do texto pretenda ser mais ou menos específico.

 

Estarei errado?

Grato pela atenção.”

 

RESPOSTA:

 

“Prezado Consulente,

O revisor está enganado.

A expressão «iniciar sessão» (ou «iniciar uma sessão») é coerente do ponto de vista semântico-referencial. Com efeito, trata-se de nova ocorrência, ou seja, de uma sessão nova com a mesma conta. Logo a determinação da conta não tem de ser confundida com as diferentes sessões que com ela se realizam.

Por outro lado, a expressão «iniciar sessão» sem artigo indefinido é uma construção que resulta da dessemantixação do verbo "iniciar", fazendo com que "sessão" dê sentido a toda a locução.

Cumprimentos,
Ciberdúvidas da Língua Portuguesa”

 

Afinal, em que é que ficamos?

 

O mundo está todo enganado, menos o revisor, ou será o oposto?

 

Agradeço que, quem de direito, esclareça esta questão de uma vez por todas, para que os tradutores possam trabalhar com alguma segurança relativamente às pontuações que lhes são atribuídas.

 

Grato pela atenção,

 

Nelson Brás

 

 

 

 

6 comments

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    Nuno

    Parece-me por demais evidente que não há nenhum erro na locução «iniciar uma sessão» e que, como o Nélson e o especialista do Ciberdúvidas dizem, o artigo indefinido refere-se à sessão e não a uma conta específica. O senhor Google diz-me que tenho neste momento seis sessões ativas na minha conta de correio eletrónico, por exemplo.

    Também me parece, sem qualquer desmerecimento, que o Nélson se pôs um bocadinho a jeito naquela nota explicativa. Vários dos exemplos do Language Portal da Microsoft citados não são aplicáveis a esta situação, e quando se está a apelar a uma reavaliação, qualquer ruído pode acabar por distrair o revisor daquilo que é essencial. Não é desculpa, e estou completamente de acordo com o Nélson, mas é um facto.

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    Nelson Bras

    Olá Nuno. De facto, tenho de concordar que estão ali coisas a mais. Só agora me apercebi de que não dei uma limpeza ao copy/paste. Não deveria ser suficiente para causar grande distração... mas, apesar de ser pouco importante, não deixa de ser ruído, sem dúvida.

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    Sara (EN>PT Language Specialist)

    Caro Nelson, Nuno e especialista do Ciberdúvidas, 

    Aqui, não se trata da possibilidade de esta sintaxe existir e estar correta em inúmeros contextos e situações.

    Trata-se do uso coerente de terminologia técnica de TI e de Interface de Utilizador - em contexto específico - e do facto de "Log in to proceed" se traduzir invariavelmente (até à data) como "inicie sessão para continuar/prosseguir" (nesta indústria), sem margem para qualquer ambiguidade. Ou seja, sem margem para me questionar. 1) se devo "iniciar uma sessão" (qualquer/ em qualquer plataforma); 2) se devo "iniciar uma nova sessão" (nesta conta/plataforma; repare-se que o uso de nova depois de uma, já confere à expressão um maior grau de definição) ou se devo "iniciar a sessão" (específica, a que a mensagem ou as instruções se estão a referir).

    Fazendo uma pesquisa simples no Google, a título de exemplo, existe apenas uma ocorrência de "Inicie uma sessão para continuar" e é em português do Brasil. - retirem-se daqui as conclusões possíveis.

    Fazendo uma consulta à base de dados terminológica da Microsoft, a expressão traduz-se - invariavelmente - como "Inicie sessão" (ver aqui).

    Um tradutor e linguista deverá (ou deveria) saber as circunstâncias nas quais o correto pode passar a "errado" ou a "desadequado" com base no seu contexto.

    Quando estamos a lidar com terminologia técnica o desvio de um termo amplamente difundido e a criatividade toram-se contraproducentes no ato de comunicação.

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    Nelson Bras

    Olá, Sara

     

    Antes de mais, convém esclarecer que não pretendo, de forma alguma, que esta intervenção seja entendida como um conflito direto com o revisor A ou B. Na verdade, trata-se de uma mera discussão académica sobre dúvidas linguísticas em geral (passadas, presentes ou futuras), a qual iniciei com o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento contínuo do nosso trabalho enquanto equipa e do produto final que oferecemos aos nossos clientes, pelo que agradeço desde já a sua participação neste debate e convido todos os interessados a partilharem as suas próprias experiências, a apresentarem as suas próprias dúvidas e a darem a sua opinião sobre todos os temas aqui tratados.

    Acima de tudo, é importante que as dúvidas fiquem devidamente esclarecidas, para que possamos utilizar as traduções mais adequadas a cada situação, sem receio de virmos a ser avaliados de forma injusta.

     

    Prosseguindo:

     

    1 - Pela sua resposta, depreendo que entende e aceita que o argumento “Quando alguém inicia sessão numa conta específica, o que é o caso, essa pessoa não está a iniciar sessão numa conta indefinida” não tem qualquer fundamento do ponto de vista gramatical, uma vez que “uma não se refere à conta, mas sim à sessão”, certo? Ou seja, admite que o “erro” foi marcado duas vezes com base numa interpretação gramatical errada do revisor.

    Creio que seria útil e ficava bem ao revisor ter-se pronunciado sobre essa questão neste fórum.

     

    Entretanto, a Sara continua a insistir em classificar a expressão como “erro”, desta feita, com novos argumentos, pondo em causa a competência, conhecimento e formação de dois dos seus pares, de um especialista reconhecido da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (uau!) e do próprio Ciberdúvidas (o maior bastião de defesa da língua portuguesa no ciberespaço), tentando rebater, mais uma vez, argumentos linguísticos devidamente fundamentados com argumentos do tipo “tenho a certeza de que é assim, porque é assim que costumo ver isto mais vezes”).

    Não obstante, apesar de ter mudado de argumento, parece-me que continua a estar enganada. Senão, vejamos:

     

    1 – Quanto ao argumento da pesquisa na Base de dados da Microsoft e no Google:

    Agradeço que comece por consultar o Language Portal da Microsoft utilizando apenas “please sign in to”. https://www.microsoft.com/en-us/language/Search?&searchTerm=inicie%20uma%20sess%C3%A3o%20para%20continuar&langID=601&Source=false&productid=0

     

    Pela sua lógica, todas estas expressões estão erradas e não deviam constar do Language Portal… mas constam:

     

    • “PLEASE SIGN IN TO continue” – INICIE UMA SESSÃO PARA continuar – Skype (que significa exatamente o mesmo que “please sign in to proceed”).

    E por extensão:

    • “PLEASE SIGN IN TO activate your Skype Manager” - INICIE UMA SESSÃO PARA ativar o seu Skype Manager – Skype Manager
    • “This activation link has expired. PLEASE SIGN IN and we'll send you a new activation link - Esta hiperligação de ativação expirou. INICIE UMA SESSÃO PARA lhe enviarmos uma nova hiperligação de ativação. – Skype
    • This activation link has expired. PLEASE SIGN IN and we'll send you a new activation link – Esta hiperligação de ativação expirou. INICIE UMA SESSÃO para lhe enviarmos uma nova hiperligação de ativação - Skype manager
    •  

    Será que, em todos estes casos (que constituem apenas uma pequena amostra), a expressão “INICIE UMA SESSÃO” também teria de ser substituída, invariavelmente, por “inicie sessão”?

    Bom… como pode ver, não é isso que se passa - o único caso em que a Microsoft utiliza sempre a fórmula sem “uma” é nos botões das aplicações, por motivos óbvios de poupança de espaço (tal como acontece nos títulos dos jornais).

     

    O facto de a expressão “inicie uma” não aparecer muitas vezes nas pesquisas do Google não tem nada a ver com a possibilidade de estar errada, mas sim com o algoritmo do Google Analytics, que se limita a mostrar primeiro as expressões mais utilizadas e aquelas que podem representar maior potencial de monetização. O mesmo acontece na pesquisa da Microsoft, etc. – o que é mostrado primeiro é aquilo que é mais utilizado, ou seja, os botões.

     

    Se considerarmos “inicie uma sessão” como erro com base no facto de não aparecerem muitas ocorrências nas pesquisas (predominância), então, também teremos de considerar errado traduzir “try again” como “tente de novo” ou “volte a tentar”, porque a tradução predominante na Microsoft é “tente novamente” (até que alguém lhes diga que “tente de novo” tem menos letras e soa melhor, uma vez que “tente novamente” é um claro exemplo do vício de linguagem a que se dá o nome de eco – “ente”-“ente” – mas isso são outros quinhentos) - além de nenhuma das alternativas estar errada, a língua portuguesa é demasiado rica para poder ser espartilhada numa fórmula única e imutável – convém recordar que se o cliente quisesse uma tradução do tipo copy-paste, tudo igualzinho, “a la Google Translator”, não se dava ao trabalho de pagar por uma tradução humana, fluída e natural.

    2 – O argumento da definição/indefinição:

    Enquanto escrevia este comentário, apercebi-me de que, na sequência do e-mail que me enviaram, os especialistas do Ciberdúvidas também publicaram a minha questão, com uma resposta ainda mais esclarecedora quanto ao tema da definição/indefinição fornecida por outro especialista (que continua a considerar a minha opção correta) e devidamente apoiada por bibliografia. Saliento que tanto eu, como o Nuno, como os dois especialistas do Ciberdúvidas, estamos todos cientes do contexto:

    ttps://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/a-expressao-iniciar-uma-sessao-informatica/36926#

     

    Perante o exposto, até que o revisor consiga apresentar-nos algum argumento que se baseie, de facto, numa fonte oficial ou no parecer de alguma instituição ou de algum académico devidamente reconhecidos (como eu fiz), a impressão que fica é que a Gengo e os seus revisores pretendem impor uma versão muito própria da língua portuguesa, contra tudo e contra TODOS (repare-se que, até agora, o revisor é o único que continua a achar que está certo), e que, quando o argumento de um revisor cai por terra, basta arranjar outro, porque o que importa é evitar ao máximo ter de corrigir a revisão.

    A questão mantém-se: onde é que está escrito que o “uma” tem de ser omitido neste contexto? Existe alguma instituição ou algum académico devidamente reconhecidos que partilhem da mesma opinião? Não? Só o revisor é que pensa assim? Nesse caso, talvez seja boa ideia o revisor ponderar a hipótese de ser ele que está enganado… e não o resto dos habitantes do planeta.

    E fico a pensar: será que os revisores dão estas justificações sem fundamento palpável para não serem penalizados quando admitem que erram? Será esse o problema? É que esta não é a primeira vez que tenho o Ciberdúvidas do meu lado… e um revisor da Gengo do outro.

    Sinceramente, até aceito que a eliminação do “uma” seja assinalada como “sugestão”, mas nunca como erro.

    Por outro lado, se a escolha oficial da Gengo é “inicie sessão”… mais vale incluírem essa imposição no guia de estilo, para que mais ninguém caia nesta armadilha.

    Agradeço os vossos comentários.

     

    Com os melhores cumprimentos,

     

    NB

    Edited by Nelson Bras
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    Sara (EN>PT Language Specialist)

    Olá Nelson,

    Este espaço não se destina a ser um tribunal nem uma arena de batalha. E nenhuma intervenção é entendida, a priori, como um conflito direto. Contudo, a acusação de eu por em causa a competência, conhecimento e formação de dois dos meus pares, sim, é entendida como a acusação que é. Tal como a acusação de que os revisores da Gengo "dão [-] justificações sem fundamento palpável para não serem penalizados quando admitem que erram". E agradecia que não fizessem parte destes diálogos, pois em nada lhes acrescentam e pouco abonam a favor da ética de profissionais que somos.

     

    No que diz respeito à exigência do parecer de um académico ou instituição devidamente reconhecidos, não tenho o meu Mestrado em Tradução e Serviços Linguísticos nem a Faculdade de Letras da Universidade do Porto (onde obtive esta formação) em tão baixa conta que não atribua à minha formação ou a esta instituição a competência e o reconhecimento necessários para a função que aqui desempenho, ou para o meu trabalho enquanto tradutora, editora e revisora. Também tenho as minhas dúvidas, também consulto instrumentos de normalização linguística, colegas e pares. No entanto, a questão de tradução que aqui se coloca não me suscita dúvidas nem justifica qualquer consulta da minha parte.

     

    Entenda que nunca discordei da gramaticalidade nem da correção da sintaxe "iniciar uma sessão" no sentido de iniciar uma nova sessão numa conta já existente. Apenas referi que a expressão "inicie sessão" ou "iniciar sessão" [sem o «uma»] adquiriu um estatuto de termo técnico pela sua ampla difusão e é a sintaxe que todos os utilizadores de serviços digitais esperam ler (apesar de o podermos dizer de outras formas, por exemplo: Comece a sua sessão para continuar. Porque não? O que há de errado nesta frase? Além do facto de causar estranheza e se desviar de uma expressão fixa da indústria?). Se se pode dizer "inicie uma sessão para continuar"? Sim, pode dizer-se. Mas em texto técnico não devemos optar pela exceção, mas pela regra (julgo que não preciso de citar referências bibliográficas sobre redação e tradução de texto técnico porque o Nelson deverá ter essa formação (?)). Os exemplos que o Nelson facultou existem, são possíveis, mas são a exceção.

     

    Com 9 resultados com a expressão ["inicie uma sessão para *" site:.pt] (aqui)

     

    contra

     

    3 270 000 (três milhões duzentos e setenta mil) resultados com a expressão ["inicie sessão para *"] (aqui)

     

    Se estes factos e argumentos não são justificação suficiente para assinalar uma sintaxe/termo que não corresponde ao uso expectável e instituido [até à data], não poderei contribuir mais para a discussão. Pois esgoto, aqui, todas as explicações.

     

    Por fim, reconheço não ser fácil traçar uma linha entre o que considerar, ou não, erro de tradução em várias situações. A palavra "erro", para começar, não me parece muito justa. Deveria ser "desadequação", por exemplo. Quando um tradutor faz um teste de tradução, está a ser revisto ou avaliado pelo seu trabalho, pode chumbar o teste ou não voltar a ser contactado por um cliente por questões que não têm necessariamente que ver com erros cometidos na tradução, mas, muitas vezes, por uma série de soluções desadequadas ou menos adequadas que comprometem a fluência e a coesão do texto. Quando revemos um texto/documento, devemos corrigir ou assinalar essas situações. Enquanto revisora da Gengo, a minha função é incentivar os tradutores a aperfeiçoarem essas "desadequações" na medida em que comprometem, de facto, a qualidade e coesão global do documento. 

     

    Muitas vezes, não me sinto confortável com a palavra "erro" ou com um sistema de pontuação/penalização. Mas para fazer bem o meu trabalho, só posso transmitir aos tradutores e colegas o melhor que sei quando existe espaço para melhorarmos a nossa prestação.

     

    Como já referi inúmeras vezes, também me engano e tenho sempre a humildade de o reconhecer.

     

    Nesta situação particular, e para me certificar de que não estava eu senil (usando as suas palavras) consultei 10 colegas tradutores e a colega revisora da Gengo, todos com vasta experiência, e todos concordaram que «inicie uma sessão para continuar» não é o termo/sintaxe instituída atualmente para o "quase" invariável «inicie sessão para continuar».

     

    Quanto a assinalar este desvio terminológico enquanto erro (leve) ou enquanto sugestão - talvez mereça um debate alargado, onde tenho a certeza de que muitos profissionais devidamente competentes, tal como nós, se iriam dividir nas suas opiniões. E, talvez, a razão estivesse do lado de ambos. Mas o importante, na minha opinião, no trabalho que desenvolvemos, não é a razão. 

     

    Edited by Sara (EN>PT Language Specialist)
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    Nelson Bras

    Olá, Sara

    Muito obrigado pela sua colaboração e pelos seus esclarecimentos.

    Em suma:

    • Fica esclarecido, para toda a comunidade, que a expressão “inicie uma sessão” encontra-se oficialmente banida da plataforma Gengo. Pessoalmente, vou fazer tudo para não voltar a utilizá-la aqui.

     

    • Fica esclarecido que o “erro” não foi considerado erro por motivo de “When someone logs in/signs in a specific account, wich is the case, the person is not signing in an indefinite account”, mas sim por motivo de desadequação estatística, uma vez que não aparece com tanta frequência nas pesquisas.

     

    • Fica esclarecido que, na plataforma Gengo, não basta que o termo esteja gramaticalmente correto, não altere o sentido da frase e até seja utilizado em fontes oficiais – adicionalmente, teremos sempre de contabilizar as ocorrências – caso contrário, se o número de ocorrências for inferior ao de outras opções, o revisor irá sempre reagir com a marcação de um “erro” (com consequências diretas na pontuação de acesso a trabalhos) e não de uma “sugestão” (com intuito meramente formativo).

     

    • Fica esclarecido que a forma de a Gengo “incentivar os tradutores a aperfeiçoarem essas desadequações” consiste na aplicação de um incentivo negativo, mais especificamente, através de uma penalização no acesso a trabalhos (porque é esse, em última instância, o efeito da redução das pontuações).

     

    • Fica esclarecido que, mesmo numa situação de “re-review” em que são apresentadas várias opiniões contrárias de fontes/entidades devidamente reconhecidas, desde que o revisor considere que “a questão de tradução que aqui se coloca não me suscita dúvidas nem justifica qualquer consulta da minha parte”, não é legítimo manter a expetativa de que o revisor proceda da mesma forma que o tradutor e que se dê ao trabalho de demonstrar que não está sozinho no seu parecer e que a sua opinião é apoiada por outras fontes/entidades reconhecidas (é a isto que me refiro quando falo em “argumento palpável”, porque, se fosse ao contrário, não acredito que o revisor aceitasse um pedido de revisão com base no facto de eu ter a certeza absoluta de que estou certo, de dizer que, cá em casa, todos concordam comigo, ou de possuir 3 doutoramentos).

     

    • Fica esclarecido que não é de bom tom o tradutor (a parte que pode, de facto, ficar prejudicada com a avaliação) achar que o revisor, ao basear as suas decisões exclusivamente na sua própria autoridade (uma pessoa), está a pôr em causa as competências de todos os indivíduos devidamente identificados (várias pessoas) que discordam da sua opinião.

    Peço desculpa se feri a sua suscetibilidade, mas sugiro-lhe que faça um exercício de empatia e que se coloque na posição do tradutor – é esta, sem dúvida, a impressão que transmite, ainda que nada tenha a ver com as suas verdadeiras intenções. Assim como admito que, da minha parte, posso ter transmitido inadvertidamente uma impressão errada de animosidade ou de dor pessoal, o que não é o caso, uma vez que mantenho uma pontuação de 9.5 e que os projetos da Gengo representam apenas uma percentagem ínfima do meu trabalho diário a tempo inteiro na área da tradução/revisão/legendagem/edição… Trata-se apenas de uma questão de princípio.

     

    Além disso…

     

    •  … de facto, o mais importante nesta conversa não é decidir quem tem “razão”, ou se devemos utilizar futuramente “uma”, “duas” ou “nenhuma” - Trata-se sim de discutir os efeitos práticos das ações do revisor e a sua adequação/desadequação relativamente à “gravidade” de cada caso, tendo em conta que, em última instância, o tradutor é que depende da avaliação para receber mais ou menos trabalho… e conseguir ou não conseguir pagar as contas no fim do mês.

     

    E é por isso que, enquanto revisor, baseio sempre o meu trabalho nos seguintes princípios:

     

    1) A escolha entre “erro” e “sugestão” não se refere a meras hipóteses académicas sem efeitos práticos imediatos, muito pelo contrário – traduz-se em euros. É uma questão de bom senso e de consideração por quem pode ser afetado. Por conseguinte, o “erro” só deve ser marcado como tal se for mesmo um “erro” em sentido estrito (incorreção gramatical, alteração substancial do sentido do texto ou desvio muito grave das fórmulas utilizadas e reconhecidas de forma natural na língua de destino).

    2) A escolha entre “não podes brincar com a abelha porque sou teu pai, eu é que mando e tu não tens idade para perceber estas coisas” ou “não deves brincar com a abelha porque te pode picar, como podes ver aqui, neste livro” não é uma escolha sem consequências, mas sim uma escolha entre um argumento autoritário (que nada acrescenta ao conhecimento do recetor da mensagem) e um argumento didático (que prepara o recetor da mensagem para entender e evitar situações semelhantes no futuro). Normalmente, enquanto revisor, quando explico e fundamento bem as minhas decisões com base em fontes oficiais (ou quando um revisor procede dessa forma relativamente ao meu trabalho de tradução) verifico que os tradutores, além de não voltarem a cometer o mesmo erro, não questionam a minha decisão e até acabam por partilhar as fontes e os argumentos com os seus pares, pelo que todos melhoramos diariamente o nosso desempenho, de forma colaborativa.

     

    Como diria um célebre locutor de rádio: “já agora, vale a pena pensar nisto”.

     

    Um grande abraço para todos e votos de muitos e bons trabalhos!

     

    NB

    Edited by Nelson Bras
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